Psicóloga Nathalia Moreira

Entenda o que são traumas de infância e descubra se você tem.

A infância é a fase da vida em que somos mais vulneráveis ​​e dependentes dos outros. Ainda não temos recursos emocionais para lidar com experiências dolorosas e, portanto, somos mais suscetíveis a sermos impactados emocionalmente pelo que nos acontece. Para atestar esse fato, basta observar as reações emocionais de uma criança diante de suas frustrações, do medo ou da desaprovação de seus pais. Nós, adultos, ao observarmos essas reações, podemos julgá-las como exageradas, mas, para uma criança, suas respostas são proporcionais a maneira como ela se sente. Logo, podemos concluir que as crianças experimentam suas emoções de forma muito intensa e que são fortemente impactadas pelo que lhes acontece.

Então, sendo natural que as crianças experimentem emoções fortes e sofram maior impacto por causa disso, como surge um trauma? Trauma é uma resposta emocional intensa a uma experiência profundamente perturbadora ou angustiante, que faz surgir um mecanismo de defesa com o objetivo de evitar reviver a mesma experiência no futuro. Ou seja, a diferença entre as experiências naturalmente intensas da infância e um trauma é o impacto que o trauma causa, que é muitíssimo maior e mais profundo do que as demais experiências. Além disso, a dor gerada pela experiência traumática deixa um registro de que é necessário evitar essa dor novamente no futuro, dando origem a um mecanismo de defesa.

Podemos sofrer um trauma em qualquer fase da nossa vida, inclusive na vida adulta. Porém, os traumas sofridos na infância têm um impacto muito maior e mais significativo, porque, nessa fase, estamos em desenvolvimento emocional e psicológico. Quando passamos por uma experiência traumática na infância, ela se torna parte de como enxergamos o mundo, os outros e nós mesmos. Ou seja, o trauma passa a fazer parte de quem somos. E é isso que torna o trauma tão poderoso em nós: ele irá nortear nosso personalidade e as nossas ações e reaçãoes ao longo da vida.

Outro aspecto importante relacionado ao trauma é que ele pode surgir baseado em uma única experiência terrivelmente ameaçadora ou como consequência da repetição do mesmo acontecimento doloroso ao longo do tempo. Além disso, o que pode ser traumatizante para uma pessoa pode não ser para outra, o que torna o trauma uma experiência completamente individual.

Como saber se tenho um trauma de infância?
Identificar traumas de infância não é uma tarefa simples, devido à maioria deles serem inconscientes, ou seja, a pessoa não se lembra de ter vivenciado uma experiência tão dolorosa. Além disso, os traumas causados ​​pela repetição de experiências dolorosas geralmente são minimizados por quem viveu, ou até mesmo naturalizados. Em outras palavras, mesmo que uma pessoa se lembre dessas experiências, ela não consegue reconhecê-las como traumatizantes, porque, de tanto que foram revividas, passaram a ser vistas como algo natural. Porém, esquecer a dor que foi causada não significa que não tenha havido trauma. Pelo contrário, não se lembrar da dor é um mecanismo de defesa que faz parte da resposta ao trauma. Isso explica por que algumas pessoas contam histórias tão pesadas de sua infância sem expressarem nenhuma emoção: elas possuem a memória do que aconteceu, mas estão desconectadas do contato com o sofrimento que essas experiências causaram.

Mas, independentemente da lembrança emocional do trauma, é impossível eliminar seus efeitos na vida de alguém que carrega dentro de si marcas de experiências tão sofridas. Entre os vários sinais de um trauma estão: dificuldade de confiar nos outros, problemas de autoestima, vícios e compulsões, reações emocionais intensas, dificuldades para lidar com conflitos, medo de abandono, dificuldade para colocar limites e dizer não, medo de errar e perfeccionismo , tendência a se isolar, ansiedade e hipervigilância, dificuldade para descansar, relaxar ou dormir, sentimento de culpa ou responsabilidade excessivos, frieza e dificuldade para se conectar com emoções, depressão e pensamentos de morte, entre outros.

A boa notícia é que não estamos condenados a viver eternamente sob a influência dos nossos traumas, desde que estejamos dispostos a reconhecê-los e tratá-los. O primeiro passo é conscientizar-se de que algo não está bem e precisa mudar, em seguida, buscar ajuda de um profissional que seja capacitado para te acompanhar e te conduzir no seu processo de cura. Lembre-se: os traumas de sua infância limitam suas possibilidades porque você reage à vida como se ainda fosse uma criança indefesa e dependente. O processo de cura te liberta dessa sensação de impotência e fragilidade e abre as portas para uma vida mais livre e mais leve.

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